José Sócrates, como dizem os brasileiros, não tem vergonha de ser feliz. O homem consegue, com a maior cara e nariz de pau, dizer as maiores barbaridades sem pestanejar. É indiscutível que tem imenso carisma e, por isso, tem sempre uma legião de fãs atrás. Seja Augusto Santos Silva, João Galamba, Armando Vara, Pedro Adão e Silva, Ferro Rodrigues, Pedro Silva Pereira ou o inefável Pedro Marques Lopes, entre tantos outros – já para não falar em jornalistas amigos, alguns mesmo íntimos. De tempos a tempos, os jornais recordam mesmo os ministros que foram ajudantes de Sócrates e depois passaram para os governos de António Costa com a insustentável leveza do ser – muitos deles tudo estão a fazer para tornar a candidatura de António José Seguro à Presidência da República um verdadeiro flop. Tenho, confesso, pelo antigo primeiro-ministro um misto de sentimentos. Considero-o um grande vigarista, mas reconheço que tem, indiscutivelmente, talento para dar e vender. Tem tanto talento que consegue fazer de parvos todos os outros. Digamos que, se tivesse aproveitado o talento para o lado bom da força, teria sido o melhor governante do país. Infelizmente, optou pelo caminho que sabemos. Por isso, quando o vejo a ‘encher’ as televisões com a sua chegada ao tribunal, dizendo as suas barbaridades, recordo-me da simpatia que tenho por personagens como Tony Soprano, Vito Corleone, Ray Lucca, entre outros, apesar de serem tudo menos meninos de coro.
Conheci-o antes de chegar à liderança do PS, numa entrevista que lhe fizemos para o então maior semanário da Rua Duque de Palmela, e do país. Estava com a Cristina Figueiredo e Sócrates pediu para desligar o gravador para dizer alguma coisa em off. Quando voltámos a ligar o gravador perguntei-lhe porque não assumia em on o que afirmara em off, ao que me respondeu que era um animal feroz.
Dois anos depois, e já no maior semanário da rua de S. Nicolau, e do país, os diretores do SOL, – José António Saraiva, José António Lima, Mário Ramires e eu – foram recebidos em São Bento, aquando do lançamento do jornal. Sócrates, acredito, nunca digeriu bem a história do animal feroz e sempre que eu abria a boca nesse almoço caía-me em cima. Confesso que acho piada a essas situações, pois gosto de picardia, e o homem tem graça quando liberta o fel.
Depois foram muitas histórias rocambolescas, com supostas ofertas de milhões para não publicarmos as notícias do Face Oculta e para deixarmos o jornalismo de mãos cheias. Continuando na fita do tempo, em 2014, finalmente, o homem é detido, e mesmo nesse momento muitos socráticos se levantaram para o defender, chamando todos os nomes aos jornalistas. Mais de dez anos depois, o antigo primeiro-ministro chega, e repito, finalmente, a tribunal. Curiosamente, algumas viúvas e viúvos do antigo líder socialista demonstraram a sua indignação pelo facto de o procurador-geral da República ter dito que chegou o momento de José Sócrates demonstrar a sua inocência.
Como é possível alguém dizer que o réu é que tem de demonstrar a sua inocência, reclamam os socráticos. Mas que raios. Não foi José Sócrates que clamou por inocência ao longo destes anos todos? Então onde é que poderá provar a sua inocência? Parece-me óbvio que é em tribunal. O antigo primeiro-ministro tem dado provas que não tem problemas de dinheiro e que deve ter uma verdadeira árvore de euros lá em casa. Esperemos também que consiga dizer onde encontrou tal árvore…
Telegramas
Advogados de Deus
Quem oiça os advogados dos réus da Operação Marquês fica, seguramente, com pena dos arguidos. Como é possível tais anjos estarem sentados no banco dos réus? É mesmo criminoso desconfiarem de tais figuras…
Um major-general em transe
A televisão, já dizia o outro, é viciante e tanto pode vender Presidentes da República como sabonetes. E é isso que deve ter pensado o major-general Isidro de Morais Pereira que confirmou estar a ponderar uma candidatura à Presidência da República. Mas será que confundiu a dica que poderia ser um bom chefe da casa militar do PR com o cargo de PR? Mistério…
Tribunal de Loures atacado por vítimas da sociedade
A notícia só mereceu uma breve no CM, mas percebe-se. Afinal, um tribunal ser apedrejado só merece ser notícia em todo o lado se o ataque partir de neonazis. «Familiares de detidos pela PSP cercaram e apedrejaram ontem o tribunal de Loures. O reforço da PSP e o diálogo com os intervenientes fez cessar o apedrejamento», escreveu o CM. Se Ventura tivesse lido a notícia não teria perdido a oportunidade de falar em direitos e deveres iguais para todos…